16 de janeiro de 2012

O Tempo Comum.

A vida não é feita só de comemorações especiais. No cômputo dos anos, o extraordinário, na verdade, representa pouco... vivemos  mesmo é das coisas corriqueiras, dos pequenos fatos e acontecimentos, do ordinário (aquilo que é de ordem, comum). É isso que faz o alicerce da existência, que lhe dá solidez e estatura.
 
No tempo Comum acontece o mesmo: entramos no cotidiano do Mistério e o Mistério entra no nosso cotidiano. O lugar desse encontro tem muitos nomes: Nazaré, Galileia, Palestina... É na historia de um povo pequeno, desprezado e conflituoso, que Deus se mistura e se manifesta. No mais comum daquilo que existe, o Mistério se dá a conhecer: “Não é ele o filho de José?” (Lc 4,22).
 
Celebrar o Tempo Comum, sobretudo na sua primeira parte, tem a ver com o reconhecimento dessa Luz que brilhou no interior das nossas vidas. Com um gosto continuado de Epifania, podemos dizer com o evangelista que a Luz veio para os seus... (cf. Jo 1,9-11). É exatamente aqui que reside o surpreendente, o especial deste tempo: onde esperávamos – entre nós -, aconteceu aquilo que mais desejávamos. Mas o paradoxo não para por aí: o Tempo Comum, em sua primeira parte, revela também a incapacidade de acolher e aceitar essa visita. A rejeição do Mistério, com feições tão próximas, nos prepara para o tempo da paixão, fazendo novamente coro com as palavras de João: “...mas os seus a rejeitaram” (Jo 1,11).
 
Este tempo nos leva a descobrir hoje o Mistério da presença de Deus na própria vida, transformando-a por dentro. Desafia-no a uma abertura maior para acolher a Luz que manifestou para nós, iluminando cada recanto empoeirado e obscuro da nossa vida. Nas celebrações da liturgia, nossos olhos se abrem para perceber que o Mistério se mistura ao comum da nossa existência.

Texto disponível na Agenda Paulus 2012.

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