D.
Claudio Maria Celli, Presidente do Pontifício Conselho para as
Comunicações Sociais, apresentou, esta manhã, na Sala de Imprensa do
Vaticano, a Menagem do Papa Francisco para o 48º Dia Mundial das
Comunicações sociais, que será celebrada no próximo dia 1 de Junho de
2014. Tema: “Comunicação ao serviço de uma autêntica cultura do
encontro”.
Na mensagem, o Papa Francisco faz, antes de mais, uma
análise fenomenológica profunda do mundo contemporâneo em que vivemos,
chamando assim atenção para o facto que “hoje, afirma, vivermos num
mundo que está a tornar-se cada vez menor, parecendo, por isso mesmo,
que deveria ser mais fácil fazer-se próximo uns dos outros. Os
progressos dos transportes e das tecnologias de comunicação deixam-nos
mais próximo, interligando-nos sempre mais, e a globalização faz-nos
mais interdependentes. Todavia, dentro da humanidade, permanecem
divisões, e às vezes muito acentuadas. A nível global, vemos a distância
escandalosa que existe entre o luxo dos mais ricos e a miséria dos mais
pobres”.
Neste sentido o Papa Francisco assinala um exemplo de
um fenómeno bastante triste típico das grandes cidades dos países ricos:
“Frequentemente, diz o Papa Francisco, basta passar pelas estradas duma
cidade para ver o contraste entre os que vivem nos passeios e as luzes
brilhantes das lojas”. Mas entretanto, “estamos já tão habituados a tudo
isso que nem nos impressiona. O mundo sofre de múltiplas formas de
exclusão, marginalização e pobreza, como também de conflitos para os
quais convergem causas económicas, políticas, ideológicas e até mesmo,
infelizmente, religiosas.
Em seguida, o Papa se pergunta sobre
qual pode ser afinal o verdadeiro papel que os meios de comunicação
sociais podem e devem desempenhar num mundo assim descrito e responde
dizendo: “neste mundo, os mass-media podem ajudar a sentir-nos mais
próximo uns dos outros; a fazer-nos perceber um renovado sentido de
unidade da família humana, que impele à solidariedade e a um compromisso
sério para uma vida mais digna. Uma boa comunicação ajuda-nos a estar
mais perto e a conhecer-nos melhor entre nós, a sermos mais unidos”.
“Os muros que nos dividem, prossegue o Papa Francisco só podem ser
superados, se estivermos prontos a ouvir e a aprender uns dos outros.
Precisamos de harmonizar as diferenças por meio de formas de diálogo,
que nos permitam crescer na compreensão e no respeito. A cultura do
encontro requer que estejamos dispostos não só a dar, mas também a
receber de outros. Os mass-media podem ajudar-nos nisso, especialmente
nos nossos dias em que as redes da comunicação humana atingiram
progressos sem precedentes. Particularmente a internet pode oferecer
maiores possibilidades de encontro e de solidariedade entre todos; e
isto é uma coisa boa, é um dom de Deus”.
No entanto, para que
tudo isso aconteça, é preciso enfrentar sériamente, alguns aspectos
problemáticos no mundo da comunicação social hodierna: por exemplo,
recorda o Papa Francisco, “a velocidade da informação supera a nossa
capacidade de reflexão e discernimento, e não permite uma expressão
equilibrada e correcta de si mesmo. A variedade das opiniões expressas
pode ser sentida como riqueza, mas é possível também fechar-se numa
esfera de informações que correspondem apenas às nossas expectativas e
às nossas ideias, ou mesmo a determinados interesses políticos e
económicos. O facto por exemplo, que o ambiente da comunicação pode
ajudar-nos a crescer ou, pelo contrário, desorientar-nos. O desejo de
conexão digital pode acabar por nos isolar do nosso próximo, de quem
está mais perto de nós. Sem esquecer que a pessoa que, pelas mais
diversas razões, não tem acesso aos meios de comunicação social corre o
risco de ser excluído”.
Estes limites, recorda o Papa, “são
reais, mas não justificam uma rejeição dos mass-media; antes,
recordam-nos que, em última análise, a comunicação é uma conquista mais
humana que tecnológica”. Para portanto permitir o nosso crescimento em
humanidade e na compreensão recíproca nessa era digital, devemos, por
exemplo, assinala o Papa Francisco, “recuperar um certo sentido de pausa
e calma. Isto requer tempo e capacidade de fazer silêncio para escutar.
Temos necessidade também de ser pacientes, se quisermos compreender
aqueles que são diferentes de nós: uma pessoa expressa-se plenamente a
si mesma, não quando é simplesmente tolerada, mas quando sabe que é
verdadeiramente acolhida. Se estamos verdadeiramente desejosos de
escutar os outros, então aprenderemos a ver o mundo com olhos diferentes
e a apreciar a experiência humana tal como se manifesta nas várias
culturas e tradições. Entretanto saberemos apreciar melhor também os
grandes valores inspirados pelo Cristianismo, como, por exemplo, a visão
do ser humano como pessoa, o matrimónio e a família, a distinção entre
esfera religiosa e esfera política, os princípios de solidariedade e
subsidiariedade, entre outros.
Eis então finalmente a grande
questão de toda a mensagem do Papa: afinal, como pode a comunicação
estar ao serviço de uma autêntica cultura do encontro? E – para nós,
discípulos do Senhor – que significa, segundo o Evangelho, encontrar uma
pessoa? Como é possível, apesar de todas as nossas limitações e
pecados, ser verdadeiramente próximo aos outros? O Papa responde dizendo
que estas perguntas resumem-se naquela que, um dia, um escriba – isto
é, um comunicador – pôs a Jesus: «E quem é o meu próximo?» (Lc 10, 29 ).
Esta pergunta ajuda-nos a compreender a comunicação em termos de
proximidade. Poderíamos traduzi-la assim: Como se manifesta a
«proximidade» no uso dos meios de comunicação e no novo ambiente criado
pelas tecnologias digitais? Encontro resposta na parábola do bom
samaritano, que é também uma parábola do comunicador. Na realidade, quem
comunica faz-se próximo. E o bom samaritano não só se faz próximo, mas
cuida do homem que encontra quase morto ao lado da estrada. Jesus
inverte a perspectiva: não se trata de reconhecer o outro como um meu
semelhante, mas da minha capacidade para me fazer semelhante ao outro.
Por isso, comunicar significa tomar consciência de que somos humanos,
filhos de Deus. Apraz-me definir este poder da comunicação como
«proximidade».
Por conseguinte,quando a comunicação tem como fim
predominante induzir ao consumo ou à manipulação das pessoas,
encontramo-nos perante uma agressão violenta como a que sofreu o homem
espancado pelos assaltantes e abandonado na estrada, como lemos na
parábola. Naquele homem, o levita e o sacerdote não veem um seu próximo,
mas um estranho de quem era melhor manter a distância. Naquele tempo,
eram condicionados pelas regras da pureza ritual. Hoje, corremos o risco
de que alguns mas media nos condicionem até ao ponto de fazer-nos
ignorar o nosso próximo real.
Precisamos de amar e ser amados.
Precisamos de ternura. Não são as estratégias comunicativas que garantem
a beleza, a bondade e a verdade da comunicação. O próprio mundo dos
mass-media não pode alhear-se da solicitude pela humanidade, chamado
como é a exprimir ternura. A rede digital pode ser um lugar rico de
humanidade: não uma rede de fios, mas de pessoas humanas. O envolvimento
pessoal é a própria raiz da fiabilidade dum comunicador. É por isso
mesmo que o testemunho cristão pode, graças à rede, alcançar as
periferias existenciais” concluiu o Papa.
Fonte: Rádio Vaticano.
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